PLANEJAR AMBIENTES DE TRATAMENTO DE SAÚDE (PARTE II)

PLANEJAR AMBIENTES DE TRATAMENTO DE SAÚDE (PARTE II)

Uma iluminação adequada pressupõe o aproveitamento máximo da luz natural e sua combinação com a luz artificial e afeta a todos positivamente, no ambiente de trabalho.

Na edição de junho da Revista APCD-RP, foi publicada Parte I de uma série de artigos sobre o tema ERGONOMIA E BIOSSEGURANÇA em ambientes de tratamento de saúde. Damos sequência com ILUMINAÇÃO, VENTILAÇÃO e CIRCULAÇÃO DE MATERIAIS – desdobramento do tema anterior – que requerem cuidados bem específicos, preferencialmente orientados por profissionais especializados.

 

Uma iluminação adequada pressupõe o aproveitamento máximo da luz natural e sua combinação com a luz artificial e afeta a todos positivamente, no ambiente de trabalho. Apenas alguns aspectos da boa iluminação, em virtude da limitação do espaço, são abordados aqui, mas não esgota esse assunto de vital importância no planejamento dos ambientes de tratamento de saúde. Ao planejar sua clínica, o profissional de saúde deve aprofundar no tema, pesquisar e contratar a consultoria de um especialista em iluminação para não cometer erros de projeto do seu ambiente de trabalho, onde passará a maior parte de sua atividade clínica e de sua vida.

 

Planejada e executada da forma correta, sob supervisão competente, pode, tanto para profissionais como pacientes, a iluminação prevenir estresse, minimizar tensão e dores de cabeça, cansaço geral e fadiga visual, favorecer e qualificar a produtividade, tornar o ambiente de trabalho agradável e prazeroso, causar relaxamento e bem-estar. Quando há exposição durante horas diárias, poderá haver melhoria da saúde geral dos profissionais e redução de doenças do trabalho, podendo influir até mesmo no aumento do lucro da clínica.

 

Recepção e Sala de Espera

A iluminação, por exemplo, da recepção ou sala de espera é responsável quase sempre pela primeira impressão que se tem da clínica. Obviamente associada às corretas cores do piso, paredes e teto e decoração. Cores e iluminação têm ligação umbilical. Neste local, a temperatura de cor da luz recomendada gira entre 2500K e 3000K, para propiciar suavidade no ambiente e conferir um aspecto aconchegante que convida ao relaxamento.

 

Expurgo e Esterilização 

A iluminação da sala de expurgo e esterilização requer outros enfoques. É onde o aproveitamento máximo de luz natural é fundamental. Ao lado da ventilação, a iluminação natural associada à artificial, tem importância primordial para um ambiente mais asséptico, por favorecer a monitoria de lavagem mecânica e ultrassônica de materiais e a inspeção visual antes do empacotamento para esterilização. Luz e ventilação têm tudo a ver com controle de infecção. Somente material absolutamente limpo é material plenamente autoclavável. O especialista em iluminação, depois do estudo do ambiente de expurgo e esterilização, indicará a temperatura de cor (medida em unidades Kelvin, K) e intensidade (medida em unidades de lux, lx) corretas. (*)

 

Corredores e Circulação 

Em corredores amplos e de pé direito alto, as luzes claras, neutras ou frias podem variar de 4000K a 8000K, para espalhar e transferir sensação de ambiente limpo.  Nestes locais, deve-se, quanto possível, usar e abusar de luz natural que, associadas com luz artificial e refletidas em paredes levemente de cor pastel, o resultado é um sentimento de calma e tranquilidade. Ambiente bem iluminado e limpo resulta em profissionais mais alertas, atentos, com mais disposição e poder de concentração nas atividades.

 

Espaço Cirúrgico

Dentro do espaço clínico – centro de onde tudo sai e para onde tudo converge – a iluminação correta é crucial. O profissional precisa de acuidade e precisão nos preparos, de fazer escolhas corretas de materiais estéticos e outros procedimentos que exigem muito da visão. Precisa de estar alerta, com boa performance, desempenho físico e mental, com risco mínimo ou zero de erros e acidentes. Lembremos que, com o passar dos anos, a visão sofre mudanças que minimizam nossa capacidade e com o odontólogo isso se potencializa. Logo, o aproveitamento da luz natural e sua combinação com a luz artificial é de vital importância para o exercício da profissão.

 

O foco de luz do refletor projetado sobre a cavidade oral tem uma especificidade diferente da luz sobre a área de trabalho. E ambas diferem da luz espalhada no ambiente mais amplo. A iluminação correta do ambiente cirúrgico tem relação direta com a prevenção da fadiga e cansaço da visão, com certeza um dos pontos que requerem conhecimento e cuidado de profissionais especializados.

 

Os refletores odontológicos mais recomendados são os que têm amplo espectro de regulagem da intensidade, que pode variar de 3000 a 40000lx e temperatura de cor de 5000K, equivalente à luz do meio-dia com o sol de verão. Os espelhos do refletor devem ser microfacetados de forma a refletir na superfície iluminada luz sem pontos de sombra. A luz mais recomendada na atualidade é a de LED, com baixo índice de ofuscamento. A intensidade na cavidade oral gira em torno de 5000lx, podendo variar ao máximo, a depender da necessidade momentânea do profissional. Sobre a área de trabalho e paciente, recomenda-se entre 1000 e 1500lx. E sobre o ambiente, entre 500 e 800lx. Atenção, não confundir intensidade de luz com temperatura de cor. (*)

PLANEJAR AMBIENTES DE TRATAMENTO DE SAÚDE (PARTE II)

Planta de Clínica com excelente planejamento de iluminação, ventilação e circulação de materiais;

Imagem cedida por Martins Design e Arquitetura

 

Ventilação

A ventilação, associada à iluminação, completa a dupla fundamental para a criação de um ambiente mais asséptico. Um ambiente com baixa ventilação e mal iluminado contribui para a cultura de microrganismos e potencializa os riscos de contaminação de ambientes e pessoas. Quanto mais ventilado, melhor. Claro que há momentos em que o ambiente fica fechado e climatizado, principalmente em cidades de clima quente. Mas há momentos em que poderá ser aberto e arejado ao máximo possível. Isto tem relação direta com o planejamento da estrutura física do prédio. Estes riscos se potencializam nos espaços cirúrgicos e nas salas de expurgo e esterilização onde os fluidos orgânicos estão muito presentes.

 

Circulação de Materiais

Para fechar, deve-se considerar, quando do planejamento físico da clínica, a circulação mínima de materiais contaminados do espaço cirúrgico à sala de expurgo e da sala de expurgo-esterilização de volta ao espaço cirúrgico para reuso. Quanto menor a distância circulada, menores os riscos de contaminação e mais favorável o controle de infecção. Quanto menos houver fluxo comum entre pessoas e material contaminado, menor é o risco de contaminação cruzada. Este é um ponto essencial no planejamento espacial e físico do prédio da clínica.

 

Lembramos que a consultoria de um experimentado profissional em iluminação, em sintonia com o arquiteto e o engenheiro da obra, é fundamental para o melhor projeto possível, sempre com foco nas pessoas – pacientes e, sobretudo, profissionais que passam horas seguidas do dia em atividade. Cada centavo investido retorna em forma de benefício ao longo da vida profissional do odontólogo e sua equipe. Do prazer de trabalhar em ambiente saudável e acolhedor depende a qualidade de vida de todos.  

Devemos ainda considerar as áreas de serviço, de armazenagem e gestão de materiais, casa de máquinas, infraestrutura hidráulica, elétrica e pneumática, redes de ar comprimido e sucção etc. Mas, em outra oportunidade. Na Parte III, o tema será sala de expurgo e esterilização, ou central de materiais e esterilização (CME) associados aos procedimentos operacionais padrão (POP) preconizados pela RDC 15 da ANVISA. Aguardem!  

 

(*) A temperatura de cor é medida em Kelvin (K) entre 1.500K e 10.000K. Quanto mais próxima de 1.500K, mais quente ou amarela vai ser a iluminação; quanto maior a temperatura em Kelvin, mais azulada. Para exemplificar, um dia claro de verão, ao meio dia, tem cercaa de 5000K. E lux é a intensidade luminosa (iluminância) por m². O lux mede a quantidade de luz que chega em uma superfície. No caso da sala clínica, a superfície em questão é a cavidade oral do paciente distando cerca de 70 cm da luz do refletor.

Acesse link para artigos relacionados sobre ergonomia e biossegurança.

https://www.blogwoson.com.br/artigo/planejar-ambientes-de-tratamento-da-saude-com-erg%C2%AConomia-e-biosseguranca-parte-i

 

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Waldomiro Peixoto
Consultor Técnico Woson