A ELOQUÊNCIA DO SILÊNCIO - SETEMBRO AMARELO

ROMPER O SILÊNCIO EM TORNO DO SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA É NECESSÁRIO QUANDO BUSCAMOS COMPREENDER O QUE LEVA UM JOVEM A ESCOLHER MORRER QUANDO A VIDA PRATICAMENTE AINDA NEM BEM COMEÇOU.
Em psicanálise, na forma como se deseja abordar o tema, sabe-se que o gesto suicida envolve o desejo de matar-se, mas não o de morrer. Esquisita essa afirmação, não é? Porém, o que muitas vezes o que adolescente deseja é dar fim ao sofrimento, às dores e às frustrações, por experimentar essas condições como impedimento ao prazer de viver. A morte é equacionada a um gesto de coragem em busca do encontro com “outro mundo” sem sofrimento, quando, na verdade, precisamos é de coragem para enfrentar a vida, não para morrer. Não podemos esquecer de que quando se tem uma dor, a dor passará.
A adolescência é marcada por uma desorganização e intensificação dos afetos. Os jovens enfrentam conflitos pela desidealização dos pais e pelo luto da infância, ligados ao recrudescimento do narcisismo. Essa acentuação do narcisismo, ligada às mudanças corporais e à sexualidade, pode vir acompanhada de sentimentos de desespero e ódio, despertando no jovem a sensação de insuficiência, de fracasso, de desvalorização e perda da esperança de modificar a situação.
A ideação suicida se sustenta mais em dar fim ao sofrimento, ligado a autocríticas e sentimentos negativos, do que à própria vida. O desejo é atacar o futuro, mais do que a vida presente. O desejo é de atacar a família e a sociedade por “não lhe darem” as condições dignas de viver. É um período marcado pela guerra no interior do ser.
É necessário discriminar os riscos que a pessoa corre levando a sério seu sofrimento. Não podemos deixar de perceber que uma tentativa de suicídio é um gesto expressivo que sempre quer dizer algo.
Cassorla[1] propôs uma classificação didática das principais fantasias suicidas: desejo de matar a si mesmo, pelo desejo de destruir elementos indesejáveis dentro de si; magoar e causar sofrimento a outra pessoa; desejo de matar dentro de si a outra pessoa com a qual se identifica. Há o desejo de ser morto para obter punição por tendências primitivas antissociais e assassinas; desejo de ser morto para acabar com as fantasias e comportamentos sexuais proibidos; desejo de ser morto para satisfazer impulsos masoquistas. Junto, vem o desejo de morrer para reunir-se com alguma pessoa morta; para se reunir com Deus; para obter expiação ou reparação; para encontrar um lugar idealizado.
Enfim, o funcionamento mental se faz predominantemente por uma violência interior com dificuldades de transformar as situações amargas da vida em crescimento e desenvolvimento.
O jovem necessita de um atendimento profissional que o acolha em seus conflitos, que colabore com a sua capacidade de pensar, e que lhe devolva a esperança em contornar o terror vivido internamente. Essas fantasias enfrentadas pelo adolescente necessitam de um acompanhamento por alguém que o trate com sinceridade, que o acolha em suas vivências de desidealização dos pais e dos adultos, que colabore com a tão necessitada reconstrução de suas identidades.
[1] Cassorla, Roosevelt (2019) – Suicídio: em busca do objeto idealizado. Revista Brasileira de Psicanálise. Volume 53, n.4, 49-65. 2019.
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