AUTOCLAVES E PROTEÇÃO DA ESTERILIDADE
HÁ UM PROTOCOLO DE PROCEDIMENTOS QUE VISA MANTER A ESTERILIDADE DO MATERIAL AUTOCLAVADO.
As autoclaves mais comuns, no Brasil, têm sido, até então, as que aquecem a água através da imersão de resistência, produzem vapor que gera pressão dentro de uma câmara de aço inox, despressurizam e secam precariamente o material esterilizado. Estas autoclaves, que trabalham somente com pressão positiva, seguem a Norma NBR 11817 que fixa os requisitos para esterilizadores a vapor com capacidade volumétrica menor ou igual a duas unidades de esterilização (UE), especialmente os usados no campo da medicina, odontologia, veterinária, clínicas integradas e centros de estética.
Nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, estas autoclaves comuns são conhecidas por “Gravitacionais Classe N”, conforme a Norma EN13060, que disciplina a fabricação de autoclaves. Outra categoria são as com apenas UM ciclo de pré-vácuo e secagem com porta fechada, conhecidas como “Classe S”. E existe uma terceira categoria que são as autoclaves com TRÊS ou QUATRO ciclos de pré-vácuo antes da fase de esterilização, produção de vapor fora da câmara e injeção de vapor dentro (da câmara), vários programas de esterilização e testes a 121°C e 134°C, portanto mais universais, seguidos de secagem a vácuo, admissão de ar quebra-vácuo através de filtro bactericida e emissão de relatórios de todas as fases do ciclo completo de esterilização, conhecidas como “Pré-Vácuos Classe B”.
A Norma En13060, ou equivalente, provavelmente deverá estar vigente no Brasil nos próximos meses, uma vez que se encontra em consulta pública desde o final de 2018.
Deverá prevalecer sobre o que disciplina as Norma NBR 11817 e RDC 15 de março de 2012. Os interessados poderão acessar a Consulta Pública n° 585, de 20 de dezembro de 2018 - D.O.U de 21/12/2018, que se encontra em fase conclusiva.
Se e quando isso ocorrer, deverá acontecer o mesmo que na Europa - substituição de autoclaves Classe N por Classe B, que asseguram esterilização mais efetiva, principalmente por dois grandes motivos:
1- As autoclaves pré-vácuo retiram, através dos 3 vácuos realizados por Bomba de Vácuo, antes da fase de esterilização, acima de 97% do ar que impede a esterilização das cargas, uma vez que o ar é um eficaz isolante térmico;
2- Secam de verdade as cargas através da ação de bomba de vácuo, depois da esterilização, pois se sabe que material úmido é material contaminável. É, portanto, mandatório que NÃO HAJA presença de umidade nos pacotes porque esta favorece a abertura da porosidade controlada do papel grau cirúrgico e a consequente contaminação do material esterilizado.
A Norma EN13060 determina que as câmaras devem ser confeccionadas com aço 304, 316, 316L ou 316Ti, apropriadas e resistentes a corrosão. Não se aceitam câmaras de alumínio em nenhuma hipótese, por soltarem partículas possivelmente cancerígenas e possuírem resistência estrutural inferior ao aço AISI como as especificações acima. Alumínio, para este fim, está abolido nos países desenvolvidos; no Brasil não será diferente.
Lembramos, no entanto, que autoclaves, de qualquer das classes acima, são apenas um dos pilares a considerar em ambientes de tratamento da Saúde e Centros de Materiais e Esterilização (CME’s).
Outros pilares devem ser considerados. São eles:
►Uso correto de equipamentos de proteção individual (EPI’s); ►Circulação, manipulação, transporte correto e seguro do material contaminado até o Centro de Material e Esterilização (CME); ►Limpeza manual ou mecânica com escovas e detergentes adequados; ►Limpeza ultrassônica com a vibração e tempo corretos, idem a temperatura da água na cuba ultrassônica; ►Enxágue com água filtrada preferencialmente em jatos (as águas duras - de torneiras - devem ser evitadas pela alta presença de sais e outras impurezas que mancham instrumentais); ►Secagem do material com ar comprimido isento de umidade e de partículas de óleo (no caso de utilizar pano, usar os que não soltam fiapos);
►Inspeção visual antes da embalagem (recomenda-se o uso de uma lupa com aumento mínimo de 8x), principalmente nos pontos de difícil acesso como articulações superfícies retentivas e lumens (não esquecer que material não-limpo não se esteriliza);
►Embalagem correta (recomenda-se papel grau cirúrgico), com selagem adequada – sabe-se que soldas de má qualidade se rompem durante o processo e comprometem a proteção e esterilidade do material embalado. No caso de usar contêineres, que sejam perfurados; ►Evitar que o tecido da embalagem - papel e filme - fiquem tensos, pois isso favoreceria o rompimento da selagem durante a esterilização, manuseio, transporte e armazenagem; ►Técnica correta de colocar as cargas dentro das autoclaves, sempre em pé, dispostas com papel-papel e filme-filme – no caso de contêineres, seguir a instrução do fabricante; ►Qualidade da água destilada e do vapor, nas especificações recomendadas; ►Tempo-pressão-temperatura de esterilização a 121°C ou 134°C conforme material a ser processado; ►Processo de secagem - o recomendável é a vácuo; ►Local, forma e gestão de armazenamento do material estéril embalado.
A ilustração abaixo é uma boa forma de se memorizar os passos obrigatórios de um processo de esterilização e a manutenção da esterilidade do material autoclavado.
Estes pilares se constituem passos a observar e praticar com vistas à manutenção da esterilidade do material, até que sua finalidade se cumpra: proteção do paciente e dos profissionais contra contaminação. Nas palavras do Dr. Fernando Bustamante, especialista em Biossegurança Médico-Hospitalar, executar corretamente estes pilares “é um dever de todos e um direito do paciente. Demonstração de respeito.”.
Por fim, mas este merece um artigo à parte, é importante o planejamento da estrutura física dos CME’s, considerando fluxo, circulação e manipulação de materiais contaminados e esterilizados, iluminação e ventilação, bem como facilidades operacionais em geral para o cumprimento à risca dos protocolos de controle de infecção e biossegurança geral dos ambientes de Saúde.
Woson Biossegurança Responsável.
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