CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO (CME): O QUE VOCÊ PRECISA SABER (PARTE I)

CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO (CME): O QUE VOCÊ PRECISA SABER (PARTE I)

O ESPAÇO DENOMINADO CENTRAL DE ESTERILIZAÇÃO DEVE TER UM FLUXO UNIDIRECIONAL DE TRABALHO, EM QUE OS ARTIGOS A PROCESSAR SEGUEM UM CAMINHO PASSO A PASSO, SEM RETORNO E SEM NEGLIGENCIAR ETAPAS.

A esterilização é um ponto crítico na Odontologia. O processamento de artigos para este fim não é aleatório; deve seguir um protocolo de procedimentos.

É importante ressaltar que, apesar da esterilização se consolidar em processo físico, existem etapas essenciais que não podem ser negligenciadas.

Desta forma, segue-se descrição de etapas que devem ser realizadas anterior e posteriormente à esterilização propriamente dita.

Todo serviço odontológico deve ter um espaço destinado ao reprocessamento de instrumental que conste, no mínimo, de uma pia exclusiva (funda necessariamente) para lavagem de instrumental mecânico-manual e ultrassônica, bancada para secar, embalar, aparelho esterilizador – AUTOCLAVE - e gavetas e/ou armários para o acondicionamento dos instrumentais estéreis.

Segundo normas da Vigilância Sanitária de São Paulo, este espaço é dimensionado de acordo com o número de unidades de trabalho do estabelecimento. Entende por “unidade de trabalho” o conjunto composto de cadeira odontológica, equipo, unidade auxiliar, refletor e mocho normalmente operado por um cirurgião dentista e uma auxiliar odontológica.

O espaço denominado Central de Materiais e Esterilização (CME) deve ter um fluxo unidirecional de trabalho, em que os artigos a reprocessar seguem caminho passo a passo sem retorno ou etapas negligenciadas.

Didaticamente, divide-se a Central de Esterilização em várias partes:

► Pré-lavagem 

► Lavagem

► Secagem

► Inspeção visual

► Barreira 

► Embalagem

► Esterilização

► Monitoração da Esterilização

► (Transporte e) Acondicionamento

 

O espaço físico deve ser delimitado em 2 áreas

1- Área Contaminada (pré-lavagem, lavagem, enxágue, secagem, inspeção visual e embalagem)

2- Área Limpa (esterilização, monitoração, transporte e acondicionamento)

O fluxo correto de reprocessamento dos materiais, sempre unidirecional, é indispensável, de forma a não misturar materiais sujos, limpos e estéreis, mantendo a cadeia asséptica.

 

PRÉ-LAVAGEM

Antes de qualquer ação deve-se considerar que TODOS os artigos estão contaminados com matéria orgânica visível ou não e devem ser limpos adequadamente. Assim, a passagem de todos os artigos e instrumentais num jato de água corrente é fundamental para facilitar a limpeza posterior.

A pré-lavagem é a etapa que antecede a lavagem (limpeza) e deve ser realizada com todos os artigos que serão reprocessados por meio de imersão em detergente enzimático durante 5 a 10 minutos.

Esta imersão deve ser completa, de forma que todo o instrumental tenha total contato com a solução enzimática pelo período determinado. A imersão deve ser feita em recipiente plástico com tampa ou diretamente na cuba ultrassônica.

Importante: não utilizar nessa etapa nenhum desinfetante (glutaraldeído 2%, álcool 70% ou em hipoclorito).

 

LAVAGEM

A lavagem (limpeza) é a etapa mais importante nos processos de esterilização e desinfecção, já que resíduos de matéria orgânica – biofilme – visíveis ou não, podem proteger micro-organismos causadores de infecção no instrumental clínico e cirúrgico. O processo de limpeza remove o material orgânico e inorgânico acumulado, como sangue, saliva, restos de materiais.

A literatura mundial aponta, há mais de uma década, a estreita correlação entre o biofilme e a esterilização e desinfecção de artigos.

A permanência do biofilme nos instrumentos pode inviabilizar os processos de esterilização, isolando os micro-organismos do agente esterilizante.

A desinfecção de qualquer instrumento também estará comprometida caso a limpeza não seja eficiente.

Ressalta-se que a limpeza do artigo contaminado, após sua utilização, deve ser iniciada o mais rápido possível para que não ocorra ressecamento da matéria orgânica, manchas e pontos de corrosão do instrumental. Quanto menor for o tempo entre o descarte ao final do uso e a pré-lavagem e lavagem, melhor!

A lavagem dos artigos pode ser feita de 2 formas:

Manual – com escovas de material plástico com cabo. Jamais utilizar esponjas ou palhas de aço, bem como insumos e/ou materiais abrasivos para que não retire a camada passiva do aço que protege e o mantém íntegro.

Automatizada / Ultrassônica – a lavagem ultrassônica é mais eficaz que a limpeza manual e deve-se optar por ela sempre que possível.

 

SECAGEM / INSPEÇÃO VISUAL

A secagem é etapa que não deve ser esquecida e faz parte do correto preparo dos artigos para posterior desinfecção ou esterilização. Realizar imediatamente após a lavagem utilizando-se papel-toalha, segundo normas da Vigilância Sanitária. 

A inspeção visual é de extrema importância e deve ser realizada logo após a secagem do instrumental. Essa fase ratifica a eficácia da limpeza realizada no início do reprocessamento e recomenda-se fazer com lentes de aumento (lupas).

 

EMBALAGEM / BARREIRA

A embalagem/barreira dos materiais é etapa essencial para garantia do sucesso no processo de esterilização e, sobretudo, pós-esterilização.

Existe no mercado odontológico uma gama enorme de materiais utilizados como embalagem para esterilização, porém, não se pode esquecer que a principal finalidade da embalagem para esterilização é funcionar como barreira e garantir que o instrumental permaneça estéril até o momento de seu uso. A manutenção da esterilidade e a manutenção da eficácia de todo o processo. 

Barreira é termo atualmente adotado pelos especialistas em esterilização.

A falta de informação e a intenção de “economizar” levam grande parte dos profissionais da área odontológica a escolher equivocadamente o material empregado na barreira.

Por conta disse, seguem algumas opções viáveis de barreiras de esterilização preconizadas pela ANVISA:

Quais as principais barreiras?

►Não-tecido: Spunlace e SMS–Spunbondeb Meltblown Spunbondeb.

►Papel crepado.

►Papel Grau Cirúrgico.

►Caixas Perfuradas envoltas por grau cirúrgico.

Papel Grau Cirúrgico – Está disponível em formato auto selante ou em bobinas. Neste último, deve-se utilizar seladora que garanta 10 mm de selamento, no mínimo.

Ficar atento ao grau de aderência entre as duas lâminas. Fraca aderência possibilita abertura de pacotes durante a autoclavagem ou manipulação dos pacotes, levando à contaminação do material esterilizado.

Papel Crepado - Utilizado em serviços odontológico de larga escala e substitui o tecido de algodão. Para utilização do papel crepado, o profissional deve dominar a técnica asséptica de dobramento do papel e execução do pacote para que não ocorra contaminação dos artigos no momento de abertura.

(Continua na Parte II).

Woson-Biossegurança Responsavel

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Dra. Lusiane Borges
Cirurgiã-Dentista, Biomédica, com especialidade em Microbiologia, Epidemiologia, MBA em Esterilização.