INSTITUTO PASTEUR, D. PEDRO II E A BIOSSEGURANÇA

  INSTITUTO PASTEUR, D. PEDRO II E A BIOSSEGURANÇA

DE COMO D. PEDRO II CONTRIBUIU COM A FUNDAÇÃO DO INSTITUTO PASTEUR, EM FRANÇA, E COM A BIOSSEGURANÇA.

 

No “Dia 7 de Setembro” comemora-se o grito de independência política do Brasil em relação a Portugal, proclamado em 1822 às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, por D. Pedro I (1798-1834), Imperador do Brasil.

Mas a independência de um povo, nação e país não é apenas política e nem se resume a somente uma data. É muito mais do que isso! É um processo coletivo que começa muito antes e continua durante décadas, talvez séculos depois.

Nossa independência deve muito ao humanista Imperador D. Pedro II (1825-1891), conhecido como “o magnânimo”, o filho do proclamador da independência. Era amante das ciências e das artes, um intelectual de esmerada educação, com domínio em antropologia, geografia, história, geologia, medicina, direito, religião, filosofia, pintura, escultura, teatro, música, astronomia, física, química, poesia, fotografia etc. Expressava-se não só em português, também em francês, inglês, italiano, alemão, espanhol, latim, grego, árabe, hebraico, sânscrito, chinês, provençal e tupi.

Há muito o que dizer sobre este brasileiro extraordinário, nascido em São Cristóvão, Rio de Janeiro, que assombrava os meios europeus pelo conhecimento e profunda cultura humanista. O episódio narrado no livro A HISTÓRIA DO BRASIL PELAS RUAS DE PARIS, de Maurício Torres Assumpção, jornalista nascido em 1964, publicado em 2014, ilustra a contribuição de D. Pedro II para as ciências da biossegurança e a libertação da Saúde Pública brasileira décadas depois.

Ele fez, em 1871, sua primeira viagem a Paris, com França então devastada pela guerra franco-prussiana. Com sua vasta cultura, ele conquistara nesta oportunidade o coração dos franceses. Em segunda viagem a Paris, em abril de 1877, ficou fora do Brasil por um período cerca de 1 ano, conheceu e ficou amigo do químico Louis Pasteur (1822-1895). Culto e humanista como era, acabou se tornando membro de várias sociedades francesas ligadas às artes e às ciências.

Pasteur tinha desenvolvido a vacina contra a raiva animal. Mas o interesse de D. Pedro II no cientista pesquisador francês não era a raiva, e sim, a febre amarela, um desafio sanitário e tanto para o Brasil daquele momento, que vitimava milhares de brasileiros.

Dom Pedro amava o Brasil. E propôs a Pasteur que viesse ao Rio de Janeiro para trabalhar pela vacina contra a febre amarela. Mas o cientista francês nunca pôde vir, alegando avançada idade (tinha 62 anos) e limitações físicas por conta de um derrame que sofrera e o deixara manco de uma perna.
Pasteur não aceitou trabalhar pela febre amarela, mas propôs a D. Pedro que aplicasse a vacina contra a raiva animal em seres humanos no Brasil, pontualmente em condenados pela Pena de Morte. Sua tese era que, ao aceitarem tomar a vacina, os condenados teriam a Pena de Morte suavizada e alternada para Pena de Prisão Perpétua. Presos, porém vivos! D. Pedro não aceitou!

Ele não tinha e nem lhe era dada a segurança necessária em relação às vacinas. Era um homem com muita compaixão no coração. Alegava que era contra a Pena de Morte e que abrandava as penas dos condenados, motivo pelo qual, a tese do cientista francês não prosperou por não fazer muito sentido aqui, em nosso país, e muito menos em sua cabeça e coração de Imperador.


- No Brasil, a Pena de Morte é suavizada pelo Soberano, teria dito o Imperador a Pasteur. Quem haverá de trocar a certeza de pena abrandada por uma vacina sem segurança de vida nenhuma, indagava ele.


D. Pedro II reiterou a Pasteur o convite para vir ao Brasil resolver o problema imenso da febre amarela. Esta, sim, era uma grande preocupação dele! Pasteur manteve-se irredutível. Nada de acordo entre eles! Mas a estima entre o cientista e o Imperador só se fez crescer, a ponto de Pasteur ser condecorado com a Comenda Imperial da Ordem da Rosa, oferecida pelo Governo Imperial do Brasil em reconhecimento aos grandes serviços humanistas prestados.


Em França, suspeitava-se da vacina contra a raiva e Pasteur sofria uma feroz oposição das sociedades francesas. Com a oposição do povo francês e sem apoio do seu Governo, o Instituto Pasteur só seria inaugurado em 1888, graças à ajuda oferecida por 4 mecenas, um deles D. Pedro II.

O Imperador do Brasil doara 100 mil francos para a fundação do Instituto e seu lado humanistaacabara sendo reconhecido pelos franceses. Dele há um busto de bronze na Sede do Instituto Pasteur, resultado de sua ação filantrópica. Este é um fato histórico de grande relevância que poucos brasileiros conhecem.

D. Pedro II morreu em 1891, aos 66 anos, debilitado pelo diabetes, em decorrência de uma pneumonia. Seus restos mortais ficaram enterrados em Paris. Pasteur, faleceu em 1895, aos 73 anos, motivado por um derrame cerebral. O Instituto Pasteur hoje, mais de um século depois, é detentor de 10 prêmios Nobel pelos relevantes serviços prestados à humanidade e pela prevenção contra a morte de milhões de pessoas ao redor do mundo. Uma inestimável contribuição!

Uma coisa é o desenvolvimento de vacinas, outra é a sua conservação, distribuição e aplicação em massa. De França e Europa, as vacinas ganharam o mundo... E a complexidade para gerir tudo isso continua sendo um grande desafio, mesmo nos dias de hoje, em pleno século XXI. 


No Brasil, desde o século XIX, são utilizadas as vacinas como medida de controle de doenças. A partir dos Anos Setenta, no século XX, o Programa Nacional de Imunização (PNI), idealizado por Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917) e criado somente em 18 de setembro de 1973 pela Lei 6.259 de 30 de outubro daquele ano, é responsável pela política nacional de vacinação da população brasileira, que tem como missão o controle, a erradicação e a eliminação de doenças imunopreveníveis.

 


Os Pioneiros


Dois nomes são muito importantes nesta história toda: o próprio Louis Pasteur e Charles Chamberland (1851 – 1908), seu discípulo. Químicos ambos, associaram-se para criar as primeiras vacinas contra a raiva e a forma de as conservar, levar e aplicar em quem delas precisasse. 

Pasteur, em função das descobertas de causas das doenças e criação de métodos preventivos, é responsável por drástica redução de mortalidade humana e torna-se um marco na História da Medicina. Seus experimentos comprovaram que o calor matava os “germes” em fervura de água acima do ponto de ebulição, quando mudava do estado líquido para gasoso.


Chamberland, seguindo os experimentos do mestre, criou, então, a autoclave, um equipamento que alcançava temperaturas acima de 120°C, controlada por uma válvula de segurança e outra de descarga. Desde então, as autoclaves evoluíram muito. E mais ainda a partir do momento que se associaram a bombas de vácuo e começaram a operar com pressão negativa e positiva, hoje normatizadas no Brasil pela ABNT/ISO17665 desde 2010.

Na atualidade, são produtos muito disseminados nos ambientes de tratamento da Saúde e Estética, como hospitais, laboratórios, postos de saúde, clínicas, consultórios salões de beleza, estúdios de tatuagem e piercing.


Como a necessidade é a mãe das invenções, Chamberland acabou criando as caixas de madeira industriais para o transporte das vacinas, precursoras dos dispositivos térmicos que se usam hoje nas mais diversas situações. Inclusive da alta tecnologia termo técnica empregada na logística para distribuição de vacinas nos pontos mais longínquos e pouco acessíveis do globo terrestre. A Pandemia do Novo Coronavírus é um exemplo muito vivo e contundente do quanto as atividades de transporte são importantes para distribuição de vacinas e preservação da vida.


Tanto Pasteur como Chamberland tiveram aguda visão de futuro porque compreenderam o alcance de suas ideias e do conjunto de ações, embriões do que se pratica hoje em termos de Saúde Pública. No conceito de biossegurança e prevenção da ANVISA, estão, latentes, essas ideias dos dois cientistas pioneiros: “é uma condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente.”.


A Woson rende a sua homenagem ao espírito humanista de Pasteur e Chamberland, igualmente ao de D. Pedro II por ter tido nosso Imperador a compreensão do momento e do alcance da notável obra desses dois grandes cientistas que mudaram os rumos da Saúde Pública no mundo.

Woson
Onde há excelência, a revolução acontece.

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Waldomiro Peixoto
Consultor Técnico Woson