PLANEJAR AMBIENTES DE TRATAMENTO DE SAÚDE (PARTE V)

PLANEJAR AMBIENTES DE TRATAMENTO DE SAÚDE (PARTE V)

Os aspectos psicofisiológicos são o ponto central neste artigo, porque, no final, o bem-estar e a qualidade de vida no exercício da profissão é que nos interessam. (...) A Norma NR17 enfatiza que é preciso evitar "posturas nocivas ao tronco, pescoço, cabeça e membros do trabalhador", e preservar o conforto, prazer e felicidade de trabalhar de forma correta.

 PLANEJAR AMBIENTES DE TRATAMENTO DE SAÚDE (PARTE V)

POSTO DE TRABALHO ODONTOLÓGICO 

Aqui o tema da série ERGONOMIA E BIOSSEGURANÇA é Posto de Trabalho Odontológico (PTO) em que podem ocorrer inúmeras particularidades, a depender das possibilidades que o local a planejar oferecer. Há, porém, uma base a seguir, definida pelas instituições internacionais ISO e FDI como normas-padrão estudadas e definidas por especialistas altamente gabaritados de várias áreas ligadas à Saúde.

No PTO ocorrem repetitividade de movimentos como rotação do tronco, flexão da cabeça que afeta a musculatura cervical, escapular e torácico-lombar, os membros superiores suspensos e outros esforços corporais. Tais movimentos repetitivos podem resultar – e quase sempre resultam – em dores, fadiga e lesões agudas ou crônicas, causas potenciais dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) que afetam diretamente a produtividade, o bem-estar, a qualidade do exercício clínico, da profissão e vida do profissional, com consequências que vão além de sua individualidade e invadem sua vida social.

A Norma Regulamentadora nº 17 (NR 17) do Ministério do Trabalho e Previdência, sobre Ergonomia no Trabalho, atualizada 07 de outubro de 2021 pela Portaria 423, estabelece diretrizes e requisitos que permitem "a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho". Seletivamente, a Norma refere-se "ao mobiliário dos postos de trabalho, ao trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais, às condições de conforto (...) e à própria organização do trabalho." - (o negrito é nosso).

Os aspectos psicofisiológicos são o ponto central neste artigo, porque, no final, o bem-estar e a qualidade de vida no exercício da profissão é que nos interessam. A psicofisiologia, também conhecida por fisiopsicologia, é o estudo científico de causas, efeitos, acontecimentos e dados – enfim tudo que é possível estudar, analisar e compreender – entre as relações psíquicas com os fenômenos fisiológicos. Estuda centralmente a base fisiológica das funções motoras especialmente no que se refere a reflexos, postura, equilíbrio, coordenação motora e mecanismo de execução dos movimentos, centralmente durante o período laboral. A Norma NR17 enfatiza que é preciso evitar "posturas nocivas ao tronco, pescoço, cabeça e membros do trabalhador", e preservar o conforto, prazer e felicidade de trabalhar de forma correta.

As dimensões dos espaços de trabalho e de circulação – em nosso caso o PTO – devem ser suficientes para "movimentar os segmentos corporais (do CD - Cirurgião-Dentista, ACD – Auxiliar do Cirurgião-Dentista e demais profissionais de apoio) livremente, de maneira a facilitar o trabalho, reduzir o esforço (...) e não exigir a adoção de posturas extremas ou nocivas."


 Normas Recomendadas pela ISO/FDI

A ISO – International Organization for Standardization ou, em português, Organização Internacional para Padronização, define normas baseadas em consenso e estudos relevantes para o mercado voltados para a inovação e soluções para os desafios globais. Possui mais de 200 Comitês Técnicos, os mundialmente chamados “TC’s– Technical Commitees”, cada um deles representando um setor específico de atividade. O ISO/TC106 é o responsável pelo setor da Odontologia. A sigla ‘ISO’ é inspirada no grego ‘isos’, com sentido de ‘igual’, por conta do quê, seu slogan é: “Grandes coisas acontecem quando o mundo concorda”.

Tudo em conformidade com a FDI – Fédération Dentaire Internationale ou World Dental Federation, uma organização com sede em Genebra, na Suíça, instituição líder mundial que representa a profissão odontológica, com “mais de um milhão de dentistas em todo o mundo” trabalhando incessantemente para “aumentar a conscientização sobre a importância de uma boa saúde bucal e seu papel vital na garantia da saúde e do bem-estar geral (...) através da melhoria da prevenção, tratamento e controle das doenças bucais” (www.fdiworlddental.org).  

Portanto, a expressão “Normas ISO/FDI” é padronizada e reconhecida mundialmente por todos os profissionais correlacionados.

O ponto de partida para a distribuição dos equipamentos, periféricos e mobiliários em um ambiente de tratamento odontológico ou PTO é o mostrador de um relógio imaginário, dividido ao meio por um eixo 6-12h, sobre o qual se assenta o paciente com os pés em 6h e cabeça em direção às 12h, considerando sua cavidade oral como eixo dos ponteiros. A área 6-9-12h do relógio é onde o CD atua e a área 6-3-12h é onde atua o ACD. Se o CD for canhoto, invertem-se as áreas.

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Imagens cedidas pela Martins Design.

A partir do estabelecimento deste padrão, estudaram-se as posições e posturas mais recomendadas dos profissionais – CD e ACD ou ACD’s – e as posições dos equipamentos – cadeira, equipo, unidade hídrica, refletor, mocho e periféricos – de tal forma que os profissionais trabalhem sentados, em postura correta e confortável. No caso do CD, ele pode operar com visão direta (9h) ou lateral (7h, 8h, 10h ou 11h) ou mesmo atrás (12h) da cavidade oral do paciente, a depender do procedimento a realizar, minimizando sua possível fadiga. No caso do ACD, sempre em contraposição ao CD, ele pode operar com visão direta (3h), ou lateral (4h, 2h ou 1h) ou mesmo atrás (12h) da cavidade oral do paciente, a depender do procedimento a realizar pelo CD.

Tais posições e posturas minimizam possível fadiga do CD e ACD durante as seguidas horas de trabalho, por facilitar o acesso aos instrumentos dos equipamentos, instrumentais e materiais colocados sobre sua área de trabalho, favorecendo tempo e movimento de todas as partes do corpo dos profissionais, resultando em aumento de conforto, produtividade e redução de custo por unidade de tratamento.

 

Entenda os Círculos A, B e C da ISO/FDI

No círculo central (A), designado como "área de transferência" ou "campo operacional cirúrgico", com raio de 0,50m (diâmetro de 1,00m) situam-se a cavidade oral no centro do relógio, para onde convergem instrumentos e pontas rotativas e similares, cabeçotes de refletor e aparelho de raio-x quando em uso, parte dos instrumentais e materiais colocados sobre o tampo da mesa auxiliar móvel, pernas e braços dos profissionais. É o campo cirúrgico por excelência. 

No círculo intermediário (B), que amplia o raio em mais 0,50m (diâmetro de 2,00m)  designado como "área de trabalho" ou "campo auxiliar", estão as pontas e comandos do equipo, instrumentais e materiais colocados sobre seu tampo, os sugadores e pontas da unidade hídrica, sua bacia e porta-copos, parte da mesa auxiliar móvel, parte das gavetas do armário quando abertas; braços e assento da cadeira odontológica e, de forma geral, os braços pneumáticos e articulados do conjunto odontológico que se aproximam e se afastam do campo operacional sem muito esforço físico por parte dos profissionais.

No círculo externo (C), que amplia o raio em 0,50m (diâmetro de 3,00m) designado como "área útil" ou "campo de apoio", estão situados os módulos de armários, aparelhos periféricos, base instalada do aparelho de raio-x se o modelo for “de parede”, pias, porta aparelhos etc.

Uma sala que segue este padrão de PTO tem em torno de 12m² (3,00m x 4,00m), cuja distribuição de equipamentos, periféricos e mobiliário permite que CD e ACD trabalhem sentados, na postura correta, com movimentos quase naturais de cabeça, pescoço, ombro, costa, braço, cotovelo, antebraço, mão, tórax, abdômen, tronco, glúteo, coxa, joelho, perna, tornozelo, pé e sua região plantar, em conformidade com a NR17:2021. 

Os trabalhos científicos na área ergonômica dão conta de que um CD operando a quatro mãos com o ACD, de forma correta e nas condições ideais de instalação, ambos aumentam em até três vezes a produtividade do consultório ou clínica, além de proporcionar condições de biossegurança impensáveis na prática a duas mãos, sem contar o prazer de trabalhar confortavelmente. 

Observemos que tudo que não faz parte do PTO e fica fora dos círculos A, B e C, é regido por outras normas da Ergonomia, algumas delas disciplinadas pelas RDC’s da ANVISA ou NBR’s da ABNT e afins. Desses outros temas, uns já foram tratados anteriormente neste espaço e outros há que ainda merecerão nossa reflexão no momento oportuno.

Fiquemos, para refletir, com as palavras do Professor Dr. Olavo Bergamaschi Barros: “(Quem) detém o conhecimento da solução é aquele que transforma o seu conhecimento em ação, implementando-o na sua própria vida, com sucesso sem igual e, depois, o lega a seus pósteros, à sua classe inteira, como algo que pode também transformar, mudando para melhor todas as vidas dos elementos que a compõem.”  (PTO – Conforto Produtividade Rentabilidade, Dental Press Editora, 2006).

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